O futuro do agronegócio dependerá da preservação do meio ambiente no Brasil

Engenheiros agrônomos, biólogos e entidades como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa, alertam que a destruição da vegetação nativa e as mudanças climáticas prejudicarão diretamente o agronegócio no Brasil, pois afetam diversos fatores ambientais de grande influência sobre a atividade agrícola.

O principal deles é o regime de distribuição das chuvas, essenciais para nossa produção (apenas 10% das lavouras brasileiras são irrigadas). Com o desmatamento e o aumento das temperaturas, certamente, fatores como umidade, qualidade do solo, polinizadores e pragas serão mais afetadas que atualmente.

As notícias sobre o setor ambiental no Brasil não são animadoras. Se o ritmo de desmatamento continuar como está, principalmente na Amazônia, atingiremos em pouco tempo um nível de devastação sem volta. Concomitantemente, as pressões e cobranças internacionais chamam atenção para a agenda ambiental do governo atual, o qual tem flexibilizado a legislação ambiental e diminuído a fiscalização.

Atualmente, o agronegócio é responsável por cerca de 22% do PIB brasileiro, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA.

Preocupados com questões de logística, estrutura e desafios comerciais como as oscilações do mercado global de commodities, a sustentabilidade acaba não sendo foco ou prioridade para o agronegócio.

Todavia, os riscos gerados pela devastação ambiental na agricultura são uma grande ameaça do que se imagina. Alguns estudos, como um feito por pesquisadores das Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Viçosa (UFV), projetam perdas de produtividade causadas por desmatamento e mudanças climáticas para os próximos 30 anos. Outros não trabalham com tempo, mas com nível de devastação, como o estudo Efeitos do Desmatamento Tropical no Clima e na Agricultura, das cientistas americanas Deborah Lawrence e Karen Vandecar, que afirmam que quando o desmatamento na Amazônia atingir 40% do território (atualmente está em 20%), a redução das chuvas será sentida a mais de 3,2 mil km de distância, na bacia do Rio da Prata.

A Há duas ameaças principais, segundo Lawrence e Vandecar. A primeira é o aquecimento global, que acontece em escala global e é intensificado pelo desmatamento. A outra são os riscos adicionais criados pela devastação das florestas, que geram impactos imediatos na quantidade de chuva e temperatura, tanto em nível local quanto continental.

A maior parte da produção agrícola brasileira depende das chuvas, somente 5% da produção total e 10% da produção de grãos são irrigados. Isso significa que mudanças na precipitação afetam diretamente nossa produção.

O regime de chuvas é afetado por uma série de fatores, desde a topografia até as correntes marítimas. Um fator importante é a dinâmica de evaporação e transpiração terrestres, ou seja, a umidade produzida pela respiração das árvores e plantas. Esse fenômeno, chamado de evapotranspiração, é especialmente alto em florestas tropicais como a amazônica, elas são o ecossistema terrestre que mais movimenta água, transformando a água do solo em umidade no ar e diminuindo a temperatura da atmosfera sobre elas.

Ao cortar a vegetação natural que, durante o ano inteiro joga água na atmosfera, umas das principais consequências é a formação de menos nuvens no período seco, como o aumento significativo de deficiência hídrica do Nordeste ao Centro-Oeste. Isso afeta as chuvas potencialmente até no Sudeste, já que existem correntes de ar que normalmente empurram essas nuvens para o sul.

A destruição da vegetação nativa afeta até a duração das temporadas de chuvas e estiagem, segundo o estudo de Lawrence e Vandecar, que faz uma revisão da literatura científica e foi publicado em 2014 na revista Nature.

E isso vale não só para a Amazônia. A remoção do Cerrado, onde hoje se encontra a principal expansão da fronteira produtiva, também eleva a temperatura local. Esse problema é reforçado pelo aquecimento global, que torna o clima mais instável e aumenta a frequência de extremos, como ondas de calor, estiagens e chuvas em excesso. E o desmatamento só intensifica esse processo.

O risco para o agronegócio é especialmente grande quando altas temperaturas ocorrem no mesmo tempo de períodos com diminuição das chuvas, isso faz com que a produtividade das lavouras diminua, podendo comprometer safras inteiras.

Um efeito adicional do comprometimento da disponibilidade de água tem a ver com a produção de energia elétrica, que também é importante para o agronegócio. Um clima mais seco ou maiores períodos de estiagem podem comprometer a vazão dos rios e dos reservatórios, afetando diretamente a produção de energia, já que nossa matriz energética é, em sua maioria, dependente de hidroelétricas.

A retirada total das florestas também gera outros problemas relativos aos recursos hídricos, além da chuva. A retirada da vegetação nativa elimina a proteção do solo, que não é reposta mesmo se a área virar uma plantação, já que as raízes das plantas cultivadas são muito superficiais. O solo cultivado também tem pouca permeabilidade - isso dificulta a infiltração da água no solo, o que gera dois problemas: um é a falta de reposição da água nos lençóis freáticos.

A outra, é um processo de erosão e poluição dos rios. A chuva vai escoando superficialmente e levando o solo junto, há uma perda da camada mais fértil, assoreando-se também os rios. E, a partir de um certo momento, não tem como reverter, há uma perda de área produtiva via erosão.

A melhor forma de evitar esse processo é manter a vegetação nativa, inclusive nas propriedades rurais, onde a cobertura florestal pode fazer uma filtragem das enxurradas antes de chegarem ao rio. As propriedades produtivas devem ter cerca de 30% de cobertura florestal, na média, para que o ciclo hidrológico e os chamados serviços ambientais funcionem normalmente. Serviços ambientais são benefícios trazidos ao cultivo pelo ecossistema, como, por exemplo, a polinização e o controle natural de pragas.

Paisagens onde há produção agrícola em desequilíbrio com o ambiente são poucos favoráveis à produção. Os inimigos naturais das pragas e doenças de plantas desaparecem, e a produção passa a depender cada vez mais de agrotóxicos. Daí, dizem os pesquisadores, vem a importância da manutenção das reservas legais, áreas de mata nativa dentro de propriedades rurais cujo desmatamento é proibido por lei. O índice de proteção exigido é de 80% na Amazônia, de 35% no Cerrado e de 20% nos outros biomas.

Até hoje, olhando a série histórica, a produtividade do agronegócio no Brasil só aumentou. Faz-se necessário enfatizar que a sustentabilidade ambiental é imperativa para a agropecuária brasileira, o que é o mesmo que dizer que nossos agricultores trabalham incansavelmente para produzir cada vez mais com o emprego de tecnologias de conservação de solo, água, flora e fauna. Além disso, alguns números chamam a atenção: dois terços da superfície brasileira – mais precisamente, 66,3% do seu território – são compostos de áreas legalmente protegidas e preservadas.

O Brasil tem áreas abertas o suficiente para produzir a demanda projetada e ainda restaurar a vegetação em uma quantidade enorme de terras. Só na Amazônia, há 17 milhões de hectares cortados, desmatados e abandonados, segundo a Embrapa.

Além das terras abertas existentes, há uma enorme possibilidade de incremento da produtividade através de implementação tecnológica. A Embrapa, afirma que soluções boas para a produção e para o ambiente, como técnicas de agricultura de baixa emissão de carbono e boas práticas de manejo de solo e água, têm se tornado cada vez mais acessíveis, e que uma maior organização de cooperativas agrícolas é necessária para aumentar o acesso dos pequenos produtores a tecnologias e avanços.

Segundo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, “Isso é uma agenda muito mais ligada à valorização imobiliária das terras e à grilagem. Quem se beneficia disso é o especulador do mercado de terras, lícito ou criminoso. O Brasil é um país gigantesco que não tem - uma agricultura ou um agricultor -, mas diversos grupos com interesses diferentes. A existência de agricultores que não têm preocupação nenhuma com sustentabilidade ou com o longo prazo é um pouco uma questão de educação, cultura e formação técnica adequada."



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